Jornalista, cantor e compositor Ivan Santos / Foto: Divulgação
1) Como começou sua relação com a música?
Oficialmente no final dos anos 80, começo dos 90, quando eu estava na universidade em Ponta Grossa / PR, e fui convidado para cantar em uma banda de um amigo (a Flor de Cactus). Mas era algo bem incipiente. Depois que me formei e vim morar em Curitiba é que a coisa ficou (um pouco) mais séria. rs
Agora a minha relação pessoal com a música é algo um pouco mais antigo e começou cantando os hinos religiosos na igreja. Na época, evidentemente, eu não tinha nem consciência disso. rs
2) Fale um pouco sobre sua carreira para quem não conhece o seu trabalho.
Como disse, minha primeira banda foi a Flor de Cactus, em Ponta Grossa, que durou pouco. Depois toquei com amigos em bares de PG (Ponta Grossa / PR), mas tudo totalmente sem pretensão nenhuma, só pela vontade de se divertir. Em 1992 vim para Curitiba, e a gente passou a frequentar aquela cena que se formou em torno do 92 Graus e outros bares e casas. Em 1994, após o falecimento do saudoso Daniel Fagundes (primeiro vocalista da Relespública) em um acidente de trânsito, fui convidado para cantar na Relespública. Também durou pouco, cinco meses, mas foi bem intenso. Meu primeiro show com a Reles foi abrindo pro Fugazi. Também tocamos no Juntatribo 2, em Campinas / SP, no Aeroanta e vários outros lugares.
Depois de sair da Reles, tive um projeto com o Igor Amatuzzi e Rubens K, chamado Dusty, que só fez duas apresentações, mas serviu de base para a criação do OAEOZ, em 1997, com o Igor, o Hamilton de Lócco (bateria) e Rodrigo Montanari (baixo). Com essa formação, gravamos e lançamos um single (OAEOZ – 1998), um EP (De Inverno – 1999), e dois álbuns – “Dias” de 2001, e o ao vivo “Take um” (2002).
Em 2003, o Igor deixou o OAEOZ para tocar outros projetos, e o André Ramiro (guitarra) e o Carlos Zubek (guitarra) entraram. Com essa formação lançamos dois álbuns – “Às Vezes Céu” (2005) e o duplo – “Falsas baladas e outras canções de estrada”/Ao vivo na Grande Garagem que Grava” (2005).
O OAEOZ acabou em 2008. De lá para cá participei do Hotel Avenida, com o Giancarlo Rufatto e uma série de outros músicos, entre 2009 e 2011, depois no IMOF, além de vários outros projetos.
3) Você é um dos jornalistas fundamentais para o estabelecimento da cena musical autoral curitibana. Como foi estar presente no surgimento de grandes bandas da cidade?
Obrigado pelo “fundamental” (rs), mas na verdade considero que sou só mais um “tijolinho” em uma construção que vem de longe e envolve muita gente. Mas realmente me considero um cara privilegiado, por ter acompanhado de perto a cena musical da cidade desde o início dos anos 90 até hoje. Curitiba sempre teve artistas e bandas excelentes. O que falta é uma cultura de valorizar o que é (bom) e daqui.
4) Fale um pouco sobre o selo "De Inverno Records".
O selo, na realidade, foi uma consequência do trabalho do OAEOZ. É a velha história do “do it yourself”. Se não tem lugar pra tocar, a gente produz os shows, grava por conta de forma independente, faz a divulgação, etc. Em 2000, eu a minha companheira de vida, Adriane Perin, criamos o festival “Rock De Inverno”, que teve sete edições, e pelo qual passaram dezenas de bandas de Curitiba e de outros estados brasileiros (e até da gringa, rs). Como a cada edição do festival, a gente editava uma coletânea com uma música de cada banda que ia tocar, para incluir no press-release do evento, o passo natural seguinte foi a criação do selo.
A De Inverno Records foi responsável pelo lançamento de todos os álbuns do OAEOZ, Hotel Avenida e IMOF, além de discos de bandas como a Cores D Flores (da Marielle Loyola) e a Sofia, entre outros títulos, e dos documentários sobre o Rock De Inverno, em parceria com Marcelo Borges. Também foi responsável pelo lançamento da coletânea “Novos Sons Fora do Eixo”, em 2002, em parceria com o Jornal do Estado. O disco – que incluía 18 bandas da cidade - saiu encartado no jornal, que esgotou nas bancas. Em 2011, também fizemos o Palco De Inverno na Corrente Cultural, com 10 bandas daqui e de outros estados. Além das “Noites De Inverno”, com bandas como a Lestics e o La Carne (ambas de SP) e Beto Só (Brasília).
5) Como você vê a cobertura jornalística local sobre a cena musical curitibana atualmente?
Infelizmente, com exceção dos abnegados de sempre, como o CWB Live, do Marcos Anubis, ou veículos como o Bem Paraná e a TV Educativa, entre alguns poucos outros, a cobertura da produção artística (incluindo a musical) de Curitiba é bem escassa e esporádica. Isso tem raízes históricas e sociais profundas, que envolvem desde a formação da cidade, até o fato de que os grandes veículos de comunicação praticamente extinguiram as editorias de Cultura.
6) Ivan, fique à vontade para fazer suas últimas considerações, redes sociais, agenda e o que mais achar necessário.
Obrigado. Convido os leitores que tiverem interesse, a conhecerem o trabalho da De Inverno. No final de 2024, tivemos dois lançamentos – o catálogo com todos os discos do OAEOZ – e a coletânea “Trilhas Sonoras para Corações Solitários”, da Hotel Avenida, a primeira em parceria com o selo 8-Bics, do Rio de Janeiro, e a segunda, com o selo Scream Yell. É só ir na busca que vcs encontram por aí.
Ouça abaixo Hotel Avenida numa releitura do clássico sertanejo "Nuvem de Lágrimas".
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