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Os últimos rockstars


Meninos em Fúria.
Marcelo Rubens Paiva e Clemente Tadeu Nascimento.

Não sei exatamente o que faz a gente querer ser um rockstar, acreditei nisso meio sem olhar. Foi só andar com uns caras, subir no palco a primeira vez e pronto, estava feito o estrago. O legal é saber que outras pessoas pensaram exatamente como eu. Alguns tornaram - se rockstars, outros não. Pertenço aos que não.

Eu vim do hard rock dos 70. Na universidade fui pesquisar sobre Os Mutantes e na pós entrei pela MPB, sabia pouco sobre o punk no Brasil, apenas de passagem e de certa forma pensava que tinham pego o bonde errado. Mas a verdade é que sem o punk, provavelmente o rock teria morrido. E aí provavelmente eu não teria cursado uma graduação em música e também não estaria por aqui. Curiosamente eles não queriam ser rockstars, um "sem querer querendo", pelo menos não como os rockstars dos 70, mas todo mundo sabe sobre Joey Ramone, Johnny Rotten e no Brasil, Clemente.

Meninos em Fúria é uma biografia conjunta, a história do Marcelo e do Clemente tendo o punk e a fase final da ditadura no Brasil como pano de fundo.  A narrativa é um pouco como em "On The Road" (Jack Kerouac) principalmente nos depoimentos do vocalista dos Inocentes. O que deixa a leitura fluente e a gente sente como se estivesse vivenciando tudo aquilo, o que em parte vivenciei realmente.

A verdade é que todos envelhecemos mas muitos artistas continuam fazendo o que sempre fizeram, acreditando no que sempre acreditaram. Eu mesmo continuo fazendo o que sempre acreditei mesmo sabendo que nada é o que parece. Marcelo foi o cara do "release", algo que também fui por aqui. Nunca foi pago e eu entendo bem como é isso porque no fundo todos sabemos que para os punks não existe mercado.

Ele também citou a Estação Primeira, lendária rádio curitibana que fez parte da minha formação musical que tinha entre suas locutoras a emblemática Margot Brasil. Somos de gerações diferentes mas seguimos pelo mesmo caminho. Me lembro de ouvir sua voz pelas ondas do rádio lá na adolescência quando era um simples garoto de colégio que sonhava com o mundo do rock.

Os Inocentes nunca estouraram. A falência veio e Clemente passou um tempo vendendo guarda - chuvas com o pai. Ele tem um senso de humor ótimo e há boas risadas durante a leitura. Se você é como eu, tocou numa banda e teve seus sonhos de rockstar vai se identificar, se não, vai saber que a vida de um está longe de ser um conto de fadas.


Comentários

  1. Amei o livro e frequentei a maioria dos lugares citado no livro, voltei ao meu passado...e relembrei coisas que havia esquecido.....amei <3

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  2. Inocentes ocupa um lugar especial em meu coração... Tenho os vinis de época e sinto um orgulho imenso de ter feito parte dessa geração sonhadora... Vou correr atrás dessa biografia com certeza....

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