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Forgiveness - um olhar sobre "Hear me Lord" de George Harrison

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Em princípio a ideia era fazer uma pequena reflexão sobre o perdão, uma atividade ligada ao meu tratamento na psicoterapia. Na pesquisa percebi que o perdão não é um caminho objetivo, está muito associado a religião e isso me desanimou um pouco. Mais adiante encontrei a palavra em inglês "forgiveness" (perdão em português) e ela me lembrou o verbo "to forget", esquecer.  Perdão seria esquecer, de uma maneira mais profunda.

Como tenho  uma relação estreita com a música resolvi procurar uma canção que falasse sobre perdão - "forgiveness", no caso. A ideia era traduzir a letra e ver no que ela poderia me ajudar, assim comecei outra pesquisa. Não fui bem sucedida, encontrei uma ou outra música, mas não gostei das canções. Tentei me lembrar de alguém dos anos 70, mas sem sucesso. Em determinado momento George Harrison me passou pela cabeça e pensei, religioso como era é possível que tenha alguma música que fale sobre perdão, e teve.

O primeiro verso da canção diz: "Forgive me Lord" - Senhor, me perdoe. Não era exatamente o que eu procurava, George fala da sua relação com Deus e como o ignorou por um longo tempo. A minha questão está relacionada ao meu pai biológico e ao meu pai de criação. O pedido de perdão e o seu consentimento são abordagens distintas, mas não havia outra música e a solução seria abandonar o projeto ou trabalhar com ela mesmo.

A primeira coisa que me chamou a atenção foi a linha melódica do piano, lembrava um pouco o pianista Nicky Hopkins e fui atrás de saber quem era. Depois de várias páginas cheguei ao nome de Gary Wright. Wright é um pianista norte americano que ajudou a fundar o grupo britânico de rock progressivo Spooky Tooth no final dos anos 60, mas ele vai entrar no projeto de George um pouco mais tarde.

George escreveu "Hear me Lord" no início de 1969, um período turbulento na sua vida pessoal e profissional. Os Beatles estavam prestes a implodir e nessa época sua esposa Patty Boyd Harrison, o havia deixado temporariamente. George mostrou "Hear me Lord" e outras composições para o grupo mas elas acabaram sendo recusadas e o que foi aprovado tornou-se o disco "Let it Be", último álbum lançado pela banda no primeiro semestre de 1970.

O que era recusado pelos Beatles, George foi guardando e quando a banda acabou, entrou em estúdio e gravou o clássico "All Things Must Pass", um álbum triplo lançado no final de 1970. "Hear me Lord" é considerada a última faixa do disco, já que o terceiro LP são jams sessions e sobras de estúdio, nessa parte da história é que entra o pianista Gary Wright. Quando ouvi a versão que foi para o disco, me deu a impressão que o pianista havia criado uma segunda melodia em cima da melodia original, como um contraponto e essa melodia me encantou de primeira. Era verdade, existem versões anteriores da música disponíveis na internet e dá para perceber a significativa contribuição do pianista para a finalização da canção.

Gary Wright tornou-se parceiro musical de George por toda a vida do ex Beatle, inclusive, pelo interesse que ambos tinham pelo misticismo da Índia. Quem primeiro se interessou pela cultura e misticismo indiano, foi a primeira esposa de George, Patty Boyd Harrison. Foi ela quem convenceu todos os Beatles a passarem uma temporada na Índia. Mais tarde, George e Patty se separaram, George casou-se com Olivia e Patty com Eric ClaptonGeorge morreu em 2001 aos 58 anos, foi cremado e suas cinzas jogadas no rio Ganges . Gary Wright está com 75 anos. Até iniciar esse artigo eu nunca tinha ouvido "Hear me Lord".


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