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arquivo digital: lúcia porto

venho trabalhando seriamente com música desde 1997, quando fui ser cobradora de ônibus para pagar o curso pré - vestibular e entrar na universidade pública. ter entrado para o curso de música da universidade federal do paraná em 1998 foi uma vitória significativa, mas estava completamente despreparada pra lidar com tudo, inclusive comigo mesma.

da minha primeira banda em 1998 (stanley dix - ainda na universidade) ao meu primeiro EP"violão solo" de 2020, dos registros sonoros do tempos de professora de educação musical (2005 - 2011) ao meu primeiro livro de entrevistas - todas as entrevistas da Lado A Discos (2016), do início da minha terapia (1999) a aceitação da minha condição de  mulher trans (2017), havia vários registros. de alguma forma achei que poderia delinear uma linha do tempo e construir um arquivo digital, até pra encerrar, de maneira simbólica, esse período da minha vida e ver o que poderia ser utilizado dali pra frente.

depois da minha disforia de gênero (junto a outras questões emocionais / psicológicas) minha opção pela carreira na música talvez tenha sido minha decisão mais complexa. primeiro por que era uma simples cobradora de ônibus e não entendia absolutamente nada sobre o modus operandi do mundo da música, segundo que não sabia sequer ler um dó na partitura e terceiro que não sabia exatamente a que instrumento me dedicar. tanto que fui convidada a entrar na minha primeira banda (stanley dix) como baixista e nunca havia tocado baixo na vida.

as bandas foram uma grande ilusão, meu trabalho como professora também. a verdade é que precisava me organizar, não na parte externa, mas intimamente. apesar das ilusões (financeiras, obviamente), fui adquirindo algum prestígio com o passar do tempo, só o fato de ter tocado com a minha primeira banda (stanley dix), me abriu a possibilidade de conhecer pessoas que trabalhavam com música na cidade, por que, simplesmente, não conhecia ninguém, são nuances que não notei na época. não estou aqui "romantizando minhas dificuldade", como disse a pitty na "saia justa" - um programa do canal GNT - numa conversa com o ator paulo vieira

em outro momento paulo vieira ressaltou: "o sonho é como um arquivo e o arquivo precisa de memória (...) a educação e a cultura ampliaram meus horizontes (...) e os sonhos puderam crescer." é isso que quis fazer ao disponibilizar no meu 2º canal no you tube, áudios das bandas que fiz parte, demo tapes de trabalhos solos, músicas autorais, covers e entrevistas que concedi em rádio e vídeo no decorrer dos anos. 

a cantora pitty completou o raciocínio do ator paulo vieira: "o contato com a arte e o lúdico é o que faz a gente ter a capacidade de inventar / contar  nossa história, se não, como você vai visualizar a sua história lá na frente?", é exatamente isso que busquei realizar ao organizar meus arquivos digitais, visualizar minha história aqui na frente. 

Comentários

  1. "A vida é mesmo uma montanha russa sem manual sem instrução pra saber como se usa"
    Aprendemos sempre a viver de desafios e muitas vezes fnos deparamos na situação que se pensarmos nas conseguências não seremos o que somos ficamos calados nos cantos e por isso vamos vivendo sem saber "o que é impossivel" vamos criando coisas lindas...

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