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o hip hop de curitiba e o shopping itália

 
foto: web

não lembro exatamente quando, mas foi entre os anos de 1989 e 1992, na época eu cursava o antigo 2º grau (hoje ensino médio) no colégio estadual do paraná. meu turno era a noite (trabalhava o dia todo) e pra tomar o ônibus pra casa, ali no terminal do guadalupe, tinha que passar pelo shopping itália. provavelmente nas noites de sexta (depois passou pro sábado), havia ali um pequeno grupo de jovens, mais ou menos da minha idade (15 a 18 anos) dançando no hall externo do shopping. eu não sabia nada sobre hip - hop mas estava vendo o nascimento de um dos lugares mais importantes pra cultura de rua em curitiba

o shopping itália foi inaugurado na cidade em 1982 e as primeiras presenças de b.boys, dançando break no hall externo do shopping, datam de 1986, com alguma controvérsia. sempre quis dançar, mas nunca aprendi, era uma guria de uma timidez atroz e nunca teria coragem de sequer conversar com aqueles caras que dançavam. é possível que alguns dos fundadores das crews (grupos de b. boys) mais antigas da cidade estivessem dançando por ali nessa época, por que em em 1997 foram fundadas a foot work e a street jump que pouco depois passou a se chamar flying boys - os garotos voadores de pinhais

pinhais é uma pequena cidade que pertence a região metropolitana de curitiba, é provável que alguns daqueles caras que dançavam, tomassem o ônibus no mesmo terminal do guadalupe, onde eu também pegava a condução. no entanto, pinhais fica na saída da zona leste e eu morava (também na RMC) na saída da zona norte.

flying boys em foto comemorativa dos seus 20 anos (2017)
apesar de conhecer alguns nomes do rap nacional e internacional desde os anos 80, foi só em 2011 que comecei e estudar um pouco mais a cultura hip hop. é nessa época que o rap nacional vai ter uma projeção avassaladora com o lançamento do álbum "nó na orelha" do rapper paulistano criolo e também a sedimentação da carreira do também paulistano, emicida - que aparece em 2009.

em 2012, comecei a trabalhar com a minha loja - Lado A Discos e fui a são paulo comprar alguns LPs, acabei trazendo, entre outros, o "nó na orelha" em vinil branco. olhando minhas fotografias dessa viagem notei uma foto da igreja de são bento - por algum motivo ignorado fui parar lá. na época, não sabia, mas descendo na estação do metrô, entre a estação e a igreja, fica o chamado largo da são bento - ali, naquele largo, também nos anos 80, surgiu o hip hop no brasil

igreja de são bento no centro histórico de são paulo - em frente a igreja fica o largo da são bento - berço do hip hop nacional. foto: lúcia porto (07.jun.12).

lúcia porto na correria dos discos 
(antes da transição) na estação do metrô pinheiros em são paulo (zona oeste) - 07.jun.12.
nessa época, conhecia um cara que sabia muito sobre rap - o bira. foi ele quem me falou de dois mcs curitibanos, cabes mc e luis cilho, que trabalhavam juntos num "coletivo - selo - gravadora" chamado "track cheio". conheci o cabes mc primeiro, provavelmente ainda em 2012, numa feira de vinil no canal da música, onde tinha uma mesa pra vender meu material. naquele ano o cabes já tinha dois CDs lançados - "todo dia é assim" (2009) e "pra onde as pessoas vão" (2012). trocamos ideias e pouco depois em 2013 eu faria uma pequena entrevista com ele.

lúcia porto (antes da transição) e cabes mc na feira do vinil -
canal da música (provavelmente em 2012).
no entanto, quem me explicou melhor sobre as crews e os b. boys foi outro mano que o bira me apresentou, o dj baqueta. foi o mesmo esquema, a gente se conheceu numa feira de vinil em um bistrô no batel (bairro boêmio de curitiba), onde também descolei uma mesa, em agosto de 2013. baqueta era b.boy da south brothers crew, uma crew da zona sul da cidade - fundada em 2005, mas estava mudando um pouco o foco para o trampo de dj. também entrevistei o baqueta, mas apenas no final de 2014.

south brothers crew (provavelmente em 2010) - dj baqueta à esquerda de jaqueta estampada.
foto: kimberly rodrigues
em 2013 o cabes mc lançou o EP "revolução constante, evolução permanente", nele há a faixa "cwbreaking". por algum motivo a faixa se tornou uma das minhas favoritas de toda a carreira do rapper e a ouvia direto. demorou, mas um dia percebi um detalhe na letra que diz: sempre trampando e sempre vendo os break no itália. pensei: cara, ele 'tá falando dos manos do shopping itália! e fui jogada no túnel tempo - pro final dos 80 início dos 90.

na verdade a letra é uma homenagem a todos os break boys e break girls do brasil, frase que ele diz no início da música e aos poucos vai citando várias crews de curitiba. as mais antigas são a flying boys (97) e a foot work (97), depois can africa spin (99) e stil contact (99) e a mais recente south brothers (2005) entre outras. cabes mc não cita na letra mas há também a dope girls crew (2012), talvez a primeira crew de mulheres da cidade.

dope girls crew em 2017.
foto: stay flow
só soube mais detalhes sobre as crews de curitiba vendo o documentário cwbreaking (título emprestado da faixa do cabes) rodado por um grupo de alunos do curso de técnico de produção audiovisual do colégio estadual do paraná (olha o estadual de novo aí) dirigido pelo b. boy joão neto de 2017. foram descobertas profundas que me ajudaram a compreender e a respeitar ainda mais as minas e os manos que fazem parte desse rolê.

Comentários


  1. otima materia e importante memoria da cultura de rua de Curitiba!!!

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  2. Belo resgate e trabalho de preservação da memória cultural de Curita, como bem disse meu amigo Cabes.

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