Chamar de carreira literária talvez seja exagero, mas houve um tempo em que quis ser escritora de verdade. Havia a música também, mas entre os quinze e os dezenove tive uma febre de literatura que acabou em um livro de poemas, nunca publicado. Desisti da vida literária quando soube que apenas dois escritores tinham vivido de direitos autorais no Brasil - Jorge Amado e Érico Veríssimo.
Entre o livro de poemas e os primeiros contos houve um espaço de mais ou menos seis anos. Em 1999 recebi um convite para escrever um conto para um suplemento literário de uma revista de quadrinhos independente - Almanaque Entropya que já estava no volume 2. O conto chama -se "Blessed" e foi escrito a mão, o editor gostou e resolveu publicá-lo assim mesmo, é o único manuscrito da publicação. Na época houve boa repercussão, com matérias na imprensa e uma resenha do escritor Valêncio Xavier (1933 - 2008) e a tiragem acabou rápido, nunca sendo re - editada. Foi meu primeiro texto publicado.
Em novembro daquele ano, saiu o Almanaque Entropya - volume 3. Nesse número foram publicados dois contos meus - Hotel e Full - Hand. Apesar de estar cursando música na universidade nesse período minha relação com a literatura se estreitou um pouco mais e passei a produzir contos com certa frequência. Mais tarde eles foram reunidos em um volume independente que chamei de "Hotel Alto Piquiri", confeccionei em torno de dez exemplares (artesanalmente) e distribui para alguns amigos, encerrei por ali minha inserção no mundo das histórias curtas.
Pouco antes disso meu irmão me convidou para escrever o prefácio de um livro que ele estava para publicar - "As Aventuras de Catherine", um romance que envolvia ficção científica e questões sociais, um trabalho que o vi desenvolvendo por anos. O livro foi publicado no ano 2000. No ano seguinte ele me convidou para acompanhá-lo numa entrevista que daria para a Rádio Educativa do Paraná. No final do programa o entrevistador me fez algumas perguntas, falei dos Almanaques e ele questionou se me inspirava em alguém, citei o Tony Bellotto, que era músico e escritor ao mesmo tempo. Anos depois me encontraria com Tony pessoalmente.
Em algum momento durante a universidade (1998 - 2002) percebi que se juntasse minhas duas habilidades talvez tivesse mais chances em um mercado competitivo, tentaria de alguma forma levar minha habilidade literária para o mundo da música. Mais tarde isso me fez assinar uma coluna musical em um jornal independente, a escrever diversos releases para artistas, além de entrevistas e resenhas de shows em revistas e sites, mas até aquele momento não havia nada disso.
Havia defendido minha monografia sobre "Os Mutantes" para uma banca não muito amistosa, que questionou a estruturação do texto e a relevância de algumas fontes. Apesar da saia justa fui aprovada, no entanto, aquilo me fez querer mostrar que meu trabalho tinha valor. Passei a reescrever o primeiro capítulo do trabalho, que era sobre a história da guitarra elétrica, para ser publicado como artigo em uma revista do curso de história. Reescrevi o texto algumas vezes até que ele foi aceito. O artigo "Guitarra Elétrica - um ícone da cultura pop do século XX" foi publicado na revista Vernáculo nº 05 que abrangia o período de janeiro a março de 2002. O texto foi usado como fonte de pesquisa para outros trabalho acadêmicos.
Em 2006 a Estrela Leminski (filha do poeta Paulo Leminski) e o Téo Ruiz lançaram "Contra - Indústria", um livro baseado em suas pesquisas de pós graduação em MPB que aborda a questão da música independente. Vi a publicação em uma livraria perto de casa e me interessei porque havia estudado com a Estrela em um curso de produção de shows e CDs no Festival de Inverno de Antonina / PR promovido pela UFPR alguns anos antes. Quando manuseio um livro que se refere a pesquisa tenho o hábito de olhar as referências bibliográficas do autor, para ver se conheço alguém, reconheci vários, mas um era especial - eu mesma! Ela citou uma monografia que desenvolvi na mesma pós, mas em uma turma anterior (2002 - 2004). Aquela citação me animou a publicar a minha monografia da pós em livro, algo que consegui realizar dois anos depois.
Quando publiquei em livro minha monografia da pós em MPB - "A Informação Rock na Música Popular Brasileira" em 2008 (a monografia é de 2004), já tinha tentado o mestrado em história por três anos seguidos. Era professora da escola pública e fiquei feliz em ver meu trabalho editado, no entanto, soube que minha carreira lítero - musical havia acabado. Sem mestrado não havia para onde ir, não era jornalista para fazer trabalhos freelancer para empresas e publicar qualquer coisa que fosse exigia dinheiro que não voltaria com a venda de livros. O mercado literário é tão ou mais complicado que o musical. Todos os trabalhos avulsos que fiz foram amadores (sem dinheiro envolvido) com raríssimas exceções.
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