1 – Como começou a sua relação com a música?
A minha família sempre
foi muito ligada em música, meus tios e primos tocam violão e tal... Mas nunca
teve ninguém que fosse profissional da música, mas eu sentia ao meu redor que
eles amavam a música mesmo.
Durante a minha infância e adolescência, meu irmão
mais velho tive uma coleção de vinil grande que era basicamente os clássicos
do rock anos 70. Coleções completas do Led Zeppelin, Deep Purple, Yes, etc... E
muitos discos de MPB também, Alceu Valença, Chico, Raul, rock nacional anos
setenta, etc... E ainda tinha uma assinatura da saudosa revista Bizz, que
naqueles tempos sem internet, era o principal veículo de informação de rock/pop
do Brasil. Então eu tinha sorte de poder ler sobre música na revista e
consultar o acervo de discos em casa.
Nessa época já fui arranhando um violão,
aprendendo uns acordes sozinho com aquelas revistinhas “Coro de Cordas”, que
eram vendidas nas bancas. Também é legal dizer que eu peguei a saudosa rádio
“Estação Primeira” que foi uma rádio curitibana que marcou toda a minha geração. Ali aprendi
muito sobre MPB, blues, vertentes mais radicais do rock como o punk, o metal, o
rockabilly, etc...
Na época tinha uma expressão que era “fora de catálogo”,
discos difíceis de achar que as gravadoras não lançavam mais no Brasil que só
se ouvia ali... Os primeiros dos Stones, Velvet Underground, Novos Baianos,
etc... Era uma programação muito, muito boa.
2 –
Você pode falar um pouco sobre a sua formação musical?
Estudei guitarra e
violão com o professor Rodrigo Grigoletti por uns três anos. Depois estudei
contrabaixo elétrico, guitarra e harmonia no Conservatório de MPB de Curitiba. A
partir de 2001 eu comecei a trabalhar
somente com música. Toquei com vários
grupos musicais desde então, bandas de rock, grupos de MPB, nas chamadas
“Bandas de Baile”, acompanhando cantores, orquestra, samba de gafieira, etc... Sempre em paralelo mantendo meus projetos de música autoral.
Sou formado no curso de Bacharelado em Música
Popular da FAP. Comecei a dar aulas de baixo elétrico no CMPB em 2003 onde
leciono até hoje. O estudo da música nunca para, sempre que posso participo das
Oficinas de Música de Curitiba e mantenho uma rotina de estudo autodidata.
3 – Você participou da gravação do CD da
Orquestra a Base de Sopro – Mestre Waltel em homenagem ao Waltel Branco em
2004, como foi essa experiência?
Entrei na OABS em 2003
para a vaga de baixo elétrico através de um teste seletivo.
Na banca estava o Itiberê Zwarg,
baixista da lendária banda do Hermeto
Pascoal. A OABS convida grandes nomes da música instrumental brasileira
para fazer uma série de shows. Toquei lá por uns sete anos, tive a oportunidade
de tocar com o Itiberê, Léa Freire, Laércio de Freitas, Nailor
Proveta, Roberto Sion e muitos
outros. Uma verdadeira escola. Gravei um CD ao vivo com músicas da flautista Léa Freire, um CD/DVD com músicas dos
membros da própria orquestra, um CD com o clarinetista italiano Gabrielle Mirabassi e um DVD com o Arrigo Barnabé.
O CD com o material do Waltel Branco foi antes destes todos
que eu citei. A maioria das músicas era para violão solo na sua versão original
e foram adaptadas para a OABS, que é um formato parecido com as “big bands”
americanas. O resultado ficou muito bom. Eu me lembro de que ele foi a alguns
ensaios e ficava sorrindo. No show de lançamento ele tocou algumas músicas com
a gente. É um artista muito importante que merece todas as homenagens.
4 – O
Baque Solto foi sua primeira banda autoral?
Não, a primeira banda
autoral minha se chamava Dona Preta,
que era uma mistura de rock/funk/samba. Participamos de algumas coletâneas como
o “Ciclo Jam” e o “Não Estacione”, mas não lançamos um CD.
Toquei na banda Badulaque, mas
eu não participava das composições, só dos arranjos. Depois voltei a trabalhar
com música própria com o Baque Solto,
já com a Marina Camargo no acordeom.
No começo era mais MPB tradicional mesmo, hoje o Baque Solto está mais para uma mistura de rock com MPB.
5 – Como veio a ideia de formar o Folebaixo?
Eu queria montar um duo
de música instrumental de acordeom que é um instrumento de harmonia com o
contrabaixo elétrico, onde eu poderia ter liberdade para solos e
acompanhamentos mais complexos. Daí o nome Fole (que remete ao acordeom) e
baixo.
Comecei a estudar uns softwares de produção de música eletrônica e
sugeri para a Marina para testarmos
as programações no duo. Gostamos do
resultado e começamos a trabalhar com material autoral mesmo, não mais só standards da música instrumental
brasileira. Mais na onda do lounge e drum’n’bass, que não deixa de ser um ritmo brasileiro. As músicas já são
compostas pensadas neste formato. Com as programações eu posso tocar o baixo
como um instrumento mais solista e não de acompanhamento.
No Folebaixo eu também toco guitarra e
violão, a Marina toca teclados e um
acordeom cheio de efeitos psicodélicos. Eu pensei na estrutura das programações
de maneira que eu pudesse improvisar também com os elementos eletrônicos. Não
funciona como um playback, eu realmente tenho que disparar todos aqueles samples e midis na hora certa, como vários instrumentos mesmo. Ao mesmo
tempo! Isto, a meu ver, deixa a música mais orgânica e menos previsível. Um DJ tradicional provavelmente teria um
infarto, mas eu acho mais divertido assim. Acabamos de lançar o nosso primeiro CD “Lounge” que conta ainda com a
participação do baterista Fábio Charvet
e da cantora Juliana Cortes em duas
faixas cada um.
6 – Você e a Marina Camargo (acordeonista,
esposa do Marcelo) tocaram na Áustria em 2014, como foi a experiência de tocar
na Europa?
Muito legal. Lá, na
Europa, é mais comum ver estes crossovers entre música orgânica e música
eletrônica, então o público já vai mais “preparado”, meio que já entendendo a
proposta. O diferencial é que não tem muita gente fazendo isso com ritmos
brasileiros que é uma coisa muito distante da cultura deles. Esperamos poder
voltar e curtir de novo.
7 – Marcelo fique a vontade para fazer suas
últimas considerações, deixar contatos, redes sociais e agenda de shows.
Obrigado ao Lado A Discos pela oportunidade, e
gostaria de dizer que Curitiba tem
grandes artistas fazendo muita música boa, nos mais diferentes estilos. Vale a
pena sair de casa e conferir o que está acontecendo aí bem perto de você. Torne
isso um hábito! A música é mais do que entretenimento, é também cultura e
experiência social.
Meu site (também tenho
um blog lá, é o Blog do Som, onde eu entrevisto uns artistas muito importantes
da música curitibana): http://www.marcelopereiramusico.com/
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