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Lado A Discos Premium entrevista Diogo Fonseca


1 - Fale um pouquinho sobre a Máquina Zero, importante banda curitibana dos anos 80.
Foi uma fase muito legal do rock nacional, nós estávamos vindo de um trabalho bem sucedido com o "Don Martelo" com muitas viagens e shows pelo interior do Paraná e Santa Catarina, porém, resolvemos mudar a direção e tomar outro rumo musical. Trocamos dois integrantes e passamos a nos chamar "Máquina Zero", nos trancamos em um estúdio e ensaiamos por cinco meses em horário comercial, de segunda à sexta e montamos o espetáculo "Máquina Zero, o show".

As primeiras apresentações foram em União da Vitória / PR e Porto União / SC, logo depois participamos de um Festival em Bateias (distrito de Campo Largo, Região Metropolitana de Curitiba) e nossa estreia em Curitiba foi em outubro de 85 no "Rainha Careca Pub". Tocamos numa domingueira no Clube Curitibano, foram as últimas apresentações do ano. Em janeiro estávamos em Camboriú / SC para uma temporada em bares e clubes. Entre uma apresentação e outra decidimos que iríamos morar em São Paulo

No carnaval de 86 chegamos de mala e instrumentos em Sampa e logo conseguimos algumas datas na Madame Satã, Anny 44, Rose Bom Bom, QG, Ácido Plástico... Foi gratificante e uma experiência incrível esses meses que a banda existiu. Eu e o Trinchas (vocalista) nos entrosamos muito bem e as composições fluíram naturalmente em São Paulo. A recepção foi incrível, principalmente dos músicos Guilherme Isnard (da banda Zero), que não perdia um show da Máquina, os meninos da Capital Inicial eram fãs da banda, Rita Lee e Roberto de Carvalho... mas o troféu foi o abraço e o elogio que recebi do Pedrinho Batera (baterista do Som Nosso de Cada Dia) após nossa primeira apresentação na Madame. Me pediu um abraço e disse: Que garra! Que raça!

2 - Como foi o seu trabalho com o Marinho Jr, lendário baterista curitibano?
Conheci o Marinho no camarim do Teatro Guaíra, no show de pré - lançamento do primeiro disco do Blindagem. Depois nos encontramos no estúdio do Maki Marú e logo nos tornamos bons amigos e passamos a tocar juntos em algumas ocasiões. Em outubro de 84, eu estava tocando com o Don Martelo e alugamos um quarto na casa do Marinho (lendária Casa Verde na Av. Westphalen). Após alguns ensaios ele nos chamou para uma conversa e disse que estava saindo do Blindagem e gostaria de entrar para a nossa banda. Com a sua entrada o Don Martelo decolou e se profissionalizou. Passamos a a locar equipamentos, os ensaios eram diários, contratamos dois roadies e começamos a compor.

Nos poucos meses que atuamos fizemos dezenas de shows, em bares, em quase todos os clubes de Curitiba e diversas apresentações pelo interior do Paraná e Santa Catarina. Paralelo aos compromissos da banda participamos da gravação do compacto do cantor Ricardo Rolim (primeiro nome artístico do cantor e compositor Ricardo Moura - que mais tarde se tornaria vocalista dos Bartenders). Nessa época chegamos a fazer um show de despedida de Curitiba no Clube 700, pois seríamos a banda de apoio para o lançamento do disco e iríamos morar no Rio de Janeiro. Porém, alguns dias após essa apresentação nossa viagem foi cancelada e passamos a viver um pesadelo.

Nessa mesma época o Blindagem assinou um contrato e estavam indo morar no Rio. Isso mexeu muito com o emocional do Bocão (apelido do Marinho), mais as dificuldades que enfrentamos naquele momento por falta de datas... Passamos a discutir muito e isso resultou no fim do Don Martelo. Foi um momento bem difícil para o Bocão, esse desencontro emocional, além do fim da banda, causou sua separação da Naná. O Don Martelo era uma banda pronta para sair e alçar grandes voos, infelizmente não soubemos lidar com as dificuldades e resolvemos trocar o nome da banda para "Apóstulus do Blues" e continuar sem o Marinho. No final dos "Apóstulus" fizemos alguns shows pelo interior do Paraná e Santa Catarina para cumprirmos a agenda e começamos a planejar uma nova banda, só com músicas autorais.

Juntamente com o guitarrista Laertes Antunes montamos o trio "Ponto 50", que foi nosso último projeto. Participamos de programas de TV na CNT (Rede de televisão brasileira cuja matriz é sediada em Curitiba) e produzimos um vídeo, gravado ao vivo, pela produção do programa "Skate Session" da música "Herança". Produzimos também um vídeo com um set só de músicas autorais numa apresentação ao vivo no "El Potato" (importante casa de shows e balada curitibana nos anos 90), com todo nosso material próprio. Infelizmente o Marinho deu a VHS (fita de vídeo) para um vizinho dele que sumiu com a fita. Fizemos nossa última apresentação num festival em Pato Branco / PR que também foi gravado, mas não tenho esse material. Devido a falta de perspectiva aliada às nossas dificuldades, fomos nos distanciando. O Marinho seguiu seu caminho e eu fui tratar de cuidar da minha saúde física e psicológica e principalmente da minha família.

3 - E o seu aprendizado musical como aconteceu?
Minha influência musical vem de berço, meu avô tocava viola de dez cordas e era primo da dupla Tonico e Tinoco. Por coincidência meu primeiro contato com instrumentos foi através de uma dupla sertaneja de raiz num aniversário que meus pais me levaram. Eu devia ter uns três ou quatro anos de idade. Era uma sanfoneiro e uma viola de dez cordas. Minha mãe amava assobiar e cantar enquanto fazia os trabalhos de casa. O rádio sempre esteve presente, me lembro da primeira música, "A Banda" (Chico Buarque) e depois "Chove Chuva" (Jorge Ben), outras duas canções que me marcaram foram "Hey Jude" e "Don't Let Me Down" (Beatles). Os Festivais de Música Popular Brasileira e os programas de televisão, Ronnie Von, Jovem Guarda, Os Mutantes, Elis Regina e Jair Rodrigues.

No início dos anos 70 a TV e o rádio tinham uma grande variedade de programas, apesar da Ditadura Militar, alguns artistas se destacavam. Em 76, já morando em Curitiba, minha irmã me deu um violão e fiquei batucando nele por um bom tempo até me colocarem numa aula no Sesi com o professor Nilo 7 cordas, fiquei apenas três meses. No que aprendi alguns acordes já saí tocando algumas músicas de revistas com cifras. "Sangue Latino" do Secos & Molhados foi a primeira, depois músicas dos Beatles. As primeiras composições foram por volta de 78 / 79.

No final de 79 recebi um convite para entrar na banda "A Carne". Já havia assistido a banda em três oportunidades, não era fã, mas eles faziam um barulho legal. Conheci o Lucas Nieri numa festa na Reitoria da UFPR, numa sexta - feira. Conversamos e ele me perguntou se eu tocava algum instrumento, disse que tocava guitarra base, aí ele me disse que estavam precisando de um guitarrista e me convidou para ir ao ensaio que seria no outro dia, perto da minha casa. Respondi que só tinha um violão, mas ele disse que tinha uma guitarra e um amplificador. Fui todo animado para o ensaio, quando chego lá, para minha surpresa, eles tinham um baixo e um amplificador valvulado (ligado) e me falaram que na realidade precisavam de um baixista. Como não tinha nada a perder, peguei o baixo.

No início de 81 estudei teoria musical e percepção na Escola Mestre Cartola com o professor Gerson Cavalieri e sigo autodidata. Minhas influências musicais vem do blues, rock 'n' roll, rock clássico e psicodélico dos anos 60 até meados dos 70, jazz rock, jazz tradicional e suas vertentes, MPB, clube da esquina, tropicalistas, rock nacional anos 70, sertanejo raiz e nossos folclores. No geral aprecio músicos de bom gosto, independente de técnica e estilo.

4 - Comente um pouco sobre seus projetos atuais, a James Marshall Band e o Eletromagnético.
Em 2012 dei início ao projeto "Eletromagnético" meu trabalho solo, e ao tributo à Jimi Hendrix com a "James Marshall Band". No "Eletromagnético" estão minhas composições que selecionei, algumas antigas e outras que criei no decorrer do projeto, esse material estará em breve disponível em um EP com seis canções com participação de amigos, gravado em 2014. Nas minhas recentes composições estou voltado a uma busca por harmonias com maior expressão e valorizando a parte rítmica, música para quem não se preocupa com rótulos e moda. Com a "James Marshall"  estamos com nosso tributo ao Hendrix & Friends, clássicos do "blues rock" com meus "guitar heroes" preferidos, Neil Young, Eric Clapton, Santana, Hendrix e outros.

5 - Diogo, fique à vontade para fazer suas últimas considerações, deixar contatos, redes sociais, agenda de shows e o que mais achar necessário.
Os endereços você sabe, facebook: Eletromagnético e James Marshall Band.

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