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barbed wire kisses - a história do jesus and mary chain (zowë howe)

 

em 15 de janeiro de 1999 o jesus and mary chain estampava a capa do caderno fun da gazeta do povo. àquela altura o caderno fun era, provavelmente, o caderno jovem mais importante do sul do brasil. o mary chain tinha acabado de lançar o disco munki (1998) e jim reid em entrevista por telefone ao fun, deixava no ar a dúvida se a banda sobreviveria ou não.

coincidentemente, a minha banda, na época, também estava naquela edição do caderno. ela concorria ao prêmio fun - melhores de 1998, com a demo "os 14 maiores sucessos da stanley dix". nem em meus sonhos mais distantes, imaginei que vinte anos depois, conheceria pessoalmente a tradutora para o português, da primeira (e única) biografia do jesus and mary chain - letícia lopes ferreira, escrita pela britânica zoë howe.

lembro vagamente quando o mary chain tocou em curitiba. era apenas uma adolescente de dezesseis anos que cursava o segundo ano do antigo segundo grau, menor de idade e proibida de ir a shows de rock. era 1990 e a banda fez um único show no ginásio do círculo militar e soube, a boca pequena, que eles tocaram de costas para o público. mas eu levaria ainda alguns anos para entrar em contato com a obra do mary chain - através de dois amigos de escola. por ora, ainda estava encantada pelos longos cabelos do bon jovi.

em 1992, no último ano do segundo grau (reprovei o terceiro em 1991), fiquei amiga de uma turma de rockeiros da minha sala, dois deles (marcelo e alessandro), me mostraram o trabalho do jesus and mary chain. gravaram pra mim, em fita cassete, uma mixtape da banda, que trazia clássicos como: just like honey (psychocandy), april skies (darklands), taste of cindy (psychocandy), happy when it rains (darklands), sowing seeds (psychocandy), head on (automatic - que já tinha sido regravada pelos pixies) e never understand (darklands). a partir do mary chain tive contato com o lado b do rock e os meus ouvidos se abriram para bandas como: pixies, dinosaur jr., sonic youth, the stooges e o velvet underground.

é um livro bem escrito, a autora conseguiu desenhar bons personagens através dos biografados, mesmo os irmãos reid (william e jim) sendo bastante problemáticos. destacou a ironia fina e o humor ácido da banda, o que torna a leitura, até certo ponto, divertida. o fato da virem da classe trabalhadora, aproxima, em partes, a história do jesus and mary chain das bandas brasileiras de rock independente. o deslocamento social, os pequenos shows, um selo independente (creation records), e obviamente, o excesso de álcool e drogas.

a tradução é competente, principalmente devido às dificuldades técnicas de teoria musical, produção de discos, publicações específicas e a linguagem interna dos músicos. uma ou outra expressão deixa no ar alguma dúvida, mas nada que comprometa. conheci a tradutora numa oficina literária de crônicas, na biblioteca pública do paraná, em abril de 2019, ministrada pelo escritor luís henrique pellanda. letícia lopes ferreira é uma escritora muito acessível e logo ficamos amigas. fiquei boquiaberta ao descobrir, por acaso, que ela havia traduzido a biografia do jesus and mary chain. é um belo livro, vale muito a leitura.

lúcia porto

barbed wire kisses - a história do jesus and mary chain (zowë howe). tradução: letícia lopes ferreira. editora sapopemba - são paulo / sp. 1ª edição brasileira: julho de 2019.

 

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