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disqueiros

 


vender discos de vinil é uma atividade curiosa, somos tratados com certo desdém por quem não entende e com algum respeito por quem é do ramo. somos como qualquer outro vendedor, trabalhador que pega ônibus lotado, toma chuva, passa frio e ganha pouco. todo vendedor sonha em fazer uma grande venda, a gente também. todo cara que vende discos quer encontrar o "coisas" do moacir santos (original) ou o "louco por você" do roberto carlos (idem) escondido em algum engradado de bazar e descolar, em uma venda, a grana de três ou quatro meses de trabalho. compro discos há trinta anos e vi o "coisas" do moacir santos, uma vez, o "louco por você", nunca vi. 

meu pai me disse uma vez que não dava R$ 1,00 em disco nenhum, é meio assim quando algumas pessoas veem a gente comprando - dá pra sentir no olhar. e pensar que o disco já foi mais bem tratado, havia lojas em curitiba com nomes sugestivos, como "rei do disco", ali na rua xv, ou "palácio musical", perto do correio velho, fechou tudo e faz tempo. quem comprava discos ficou por aí, as coleções ficaram nas casas das pessoas (exceto os que jogaram fora). alguns continuaram comprando, colecionadores e entusiastas de uma época. de repente perceberam que aqueles discos que elas ainda tinham em casa valiam uma grana e aí foram especular na web e não vendem por preços que não acompanhem o que elas viram. resultado: ninguém compra e ninguém vende.

sabe quem pode dizer quanto valem esses discos? disqueiros como a gente, mas as pessoas tem receio de disqueiros, porque elas acham que a gente vai ficar rico. não vamos ficar ricos, mas também pagamos contas e nos arriscamos a ficar com um material que só Deus sabe quando vai vender. dependendo do jeito que o cara manuseia os discos a gente já sabe se ele é ou não do mundo do vinil. ninguém que é do mundo do vinil segura discos pela orelha da capa ou põe os dedos nas faixas, é cuidadoso com os sleeves (capas internas), principalmente se forem originais. quem não é, manuseia de qualquer jeito, acaba marcando as capas, os discos com as pontas dos dedos, rasgando sleeves, enfim, o estrago pode ser grande.

para o disqueiro é mais dolorido, por que a gente sabe que o cara que vai comprar vai reparar em tudo isso e das duas uma: ou o preço cai ou o cara não compra, na esperança de encontrar outro melhor. um rasgo em um sleeve original, se o disco estiver em bom estado, se a gente pediria R$ 100,00 acaba tendo que fazer por R$ 90,00 ou R$ 80,00. o problema é que o disqueiro não tem como dizer isso. às vezes o cara é só um curioso dando uma olhada na sua banca, não saca nada de nada, não vai comprar, acha tudo caro etc e etc... e a gente fica ali com aquela cara, procurando a uma maneira de dizer para o cara tomar cuidado. algumas lojas tem avisos, é para os caras sem noção que podem danificar discos de R$ 300,00 ou R$ 400,00. outra coisa, nunca peça para abrir um disco lacrado, ainda mais se ele for de época. discos lacrados valem mais que discos abertos, e os de época são bem difíceis. não há como repor, reedições não contam.

em 1996 as fábricas de vinil fecharam no brasil (ficando apenas a polysom). a época de ouro do vinil tinha acabado, o CD tinha tomado conta do mercado, mas os sebos continuaram e o vinil foi sobrevivendo muito em função dos colecionadores. no início dos anos 00 começaram a aparecer as primeiras feiras de vinil, organizadas por um japonês em são paulo. pouco depois, já estavam sendo organizadas também em curitiba

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