na graduação que fiz em música meu trabalho de conclusão de curso (tcc) sobre "os mutantes" não foi bem recebido pela banca. havia dois problemas, um era a “pertinência das fontes”, outro, a maneira como construí o texto, com citações longas demais e má organização dos capítulos. apesar das dificuldades procurei sustentar meus argumentos, mas tive que contar com a boa vontade do examinador. mesmo sem ter desenvolvido uma boa defesa, o mais importante foi que aprendi muito sobre a importância da banda para o cenário da música brasileira.
antes da pesquisa conhecia apenas uma ou outra faixa, que o guitarrista da banda onde eu tocava, havia mostrado. pra mim era difícil visualizar onde um trabalho como aquele me levaria profissionalmente, sabia que tinha em mãos o resultado de um ano de pesquisas e leituras, mas e daí? o que fazer com aquele conhecimento? meu primeiro passo foi transformar o primeiro capítulo, sobre a história da guitarra elétrica, em um artigo. pouco depois ele foi aceito em uma revista de estudantes de história da ufpr. foi bacana ver o trabalho publicado, com lançamento e tudo mais. no entanto, passado o brilho do momento, voltei à estaca zero.
ir para a pós graduação em mpb foi um segundo passo, apesar de ser temerário, eu achava que uma pós, me daria um pouco mais de alguma coisa, que ainda não sabia o que era. quando chegou o tempo da monografia achei por bem continuar o trabalho que desenvolvi na graduação e ampliei meu objeto de pesquisa, buscando em outros artistas ressonâncias do que "os mutantes" haviam feito. ganhei conceito A com a pesquisa, e consegui compreender que a música popular feita no brasil tinha várias linhas e que uma delas era o experimentalismo, que teve "os mutantes" como um dos seus maiores expoentes.
acabei descobrindo, por exemplo, que jorge ben(jor) era um dos pioneiros nessa linha e que fazia todo sentido "os mutantes" inserirem uma faixa dele no primeiro disco que lançaram. para além da influência de jorge ben, "os mutantes" (com rita lee) também fizeram sucessores como novos baianos, raul seixas, clube da esquina, secos & molhados, tim maia etc., obviamente que cada um a sua maneira. essa importância da banda tinha ficado clara para mim, indo desembocar em chico science e a nação zumbi já nos anos 90. no entanto, com o fim da pós fui para a fila dos desempregados. de que adiantava saber de tudo isso, não é mesmo?
alguns anos depois, já professora de arte no colégio estadual do paraná fui surpreendida por uma ligação da rádio cbn aqui de curitiba. eles queriam que eu entrasse ao vivo e falasse um pouco sobre a importância d"os mutantes" para a música popular brasileira. como já tinha a importância deles na cabeça aceitei fazer (tive que parar uma aula que estava lecionando para conceder a entrevista). mais tarde, curiosa, procurei saber como eles conseguiram meu telefone. soube que haviam ligado para uma amiga minha e queriam que ela concedesse a entrevista. ela recusou e se lembrou da minha defesa na graduação (ela estava presente no dia) e forneceu meu telefone. a entrevista foi ao ar no dia 04 de agosto de 2006 - onze anos antes de me assumir.
lúcia porto
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